Eu não sei criar! Mas Hermeto sabe.

Eu não sei criar!

Parece difícil iniciar algo que realmente nos interesse. Dentre tantas coisas que despertam as idéias, provocam sentimentos, chacoalhem emoção, mesmo assim, é tão escasso o entusiasmo. Às vezes lemos textos formidáveis, que nos prendem por completo, que temos vontade de nos apossar dele e nos orgulharmos de termos escrito; termos tido a criativa imaginação de simplificar um conhecimento, um “insight” em palavras.

Mas não, o texto é “do outro”, temos que respeitar a lei federal nº 9610, 19/02/1998, mais que isso, temos que nos respeitar enquanto cidadãos. Eu adoraria ter um pensamento meu utilizado por centenas de pessoas. Nunca fui fã de leitura (um defeito de infância ou uma falta de incentivo à cultura?), mas sempre procurei ler para não enferrujar muito a mente. E quando leio, me transporto tão facilmente à idéia do escritor, que fico confusa se li direito, se tive a percepção exata do que ele quis dizer. Porque sempre procuro me relacionar mais intimamente com aquilo e aqueles que chegam até a mim. Essa intimidade é necessária para que eu não subestime o pensamento alheio ou me deixe seduzir completamente por ele. Mas eu não sei criar!

Por que quando escrevo algo tem sempre a visão de outro e mais outro que me impressionou ou me despertou idéias adormecidas. Isso às vezes acontece quando ouço músicas. Os críticos vivem opinando sobre tal banda, tal artista, “ele não é criativo”, “isso é uma cópia barata de tal movimento”, ou “seu show é inovador e revolucionário” – um repertório de colocações baseadas em escolhas e gostos pessoais.

Concordo que tem pessoas que trazem algo novo no jeito de se fazer música. Mas aqui vale mais o sentimento, a energia que circula nas canções. O benefício que ouvir uma melodia traz é equivalente ao que a música quer transmitir e ao que cada pessoa pode captar. Pegar um bom texto e trazer os acordes perfeitos a ele é o “must” da criação.

Se nós temos dado a essa cultura o valor real, eu não sei. Se nós temos uma sociedade pensante e questionadora, tenho dúvidas. Mas sei que se discute muito sobre as artes e procura-se pouco a compreensão dos sentimentos para o captar delas. Vamos sentir mais. Vamos deixar que a música, que a beleza das imagens nos desperte o melhor de nossas essências.

Podemos não criar nada totalmente autêntico, mas não somos uma ilha. Somos o exercício diário do que conseguimos assimilar na convivência com o mundo.