
São Jorge Guerreiro
(por Alexandre Pelegi)
Hoje, 23 de abril, muitos brasileiros comemoram o dia de São Jorge. Uma antiga reza, que acabou virando letra de música de Jorge Benjor, garante: “Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.”
Para os que entendem do riscado, isso é o que chamam de oração de fechamento de corpo. Por mais que muita gente veja nisso tudo apenas traços pitorescos da crendice popular, a devoção a São Jorge no Brasil deveria colocar muito cético com a barba de molho.
Ogum para os umbandistas, São Jorge representa a defesa contra o mau-olhado, a inveja, a cobiça. É o santo guerreiro, lutador, destemido, símbolo da iniciativa. Na música, muito já se versejou sobre Jorge, o rei da Capadócia. Uma devoção religiosa que ultrapassa os limites religiosos, invocando orixás da África e mitos católicos. São Jorge, não é por nada, tornou-se o santo mais forte do sincretismo religioso brasileiro.
Quem já não viu uma imagem do santo dependurada num canto de sala, em estante de boteco, em medalhinha no peito de marmanjo? Repare na devoção de músicos e artistas, que não só exteriorizam sua fé em letras e melodias, como fazem questão de assumir sua devoção em público...
O diferente nesta adoração respeitosa é que ela transcende os limites das religiões, supera os preconceitos, ignora a racionalidade dos que cobram lógica e distância das crendices. No dia do índio pude ver o respeito à terra-mãe ser relembrado por alguns remanescentes de tribos indígenas no país. Foi quando me dei conta de quanto estamos distantes de nossas raízes, e de como, quanto mais nos apartamos delas, mais céticos e arrogantes nos tornamos.
Prefiro ver no guerreiro Jorge o símbolo do trabalho e da atividade criadora do homem sobre a natureza. Prefiro me unir aos que rezam em busca de paz, ao invés de me curvar aos que negam a força da superação. Num tempo de tanta violência e descrença no próximo, cultuar São Jorge pode nos ajudar a relembrar a força da natureza que trazemos em nós.
Patacori Ogunhê! Que o guerreiro São Jorge nos proteja!